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Da Évora 1.0 à Évora 2.0

100% do espaço é dedicado aos carros (Évora, 2019)

Évora 2.0 é o novo projecto da Gare apoiado pelo Fundo Ambiental. Este projecto pretende colocar as crianças e os jovens a pensar uma nova mobilidade para a cidade. Uma mobilidade 2.0. Uma nova versão da mobilidade consentânea com um novo paradigma de mobilidade centrado nas pessoas e não nos carros. 

O actual modelo de mobilidade da cidade, uma versão 1.0 usando a terminologia das versões de software,  tem conduzido a uma cidade, por via do seu planeamento e gestão quotidianos, a uma Évora autocêntrica dominada , quase em exclusivo, pelos carros.

A prova disso são os números. E a nossa percepção confirma-o. Em Évora, segundo os censos de 2011, quase 4 em 5 pessoas que se deslocavam-se diariamente para o trabalho faziam-no de automóvel. E cerca de ? dos estudantes deslocavam-se também neste meio de transporte. Estes dados reportam há 8 anos atrás. A nossa percepção é de que o domínio do carro tenha ainda aumentado nos anos mais recentes.

Quer isto dizer que é residual o número de eborenses que se deslocam de transportes públicos, a pé ou de bicicleta.

As cidades autocênctricas não tratam bem as pessoas. Fazem-lhes mal. São deslocações caras para aqueles que se deslocam de carro e para a própria  cidade; e trazem problemas ambientais que decorrem da poluição do ar -são cada vez mais os estudos que associam múltiplas doenças graves e crónicas à poluição do ar provocada pelos gases produzidos pelos automóveis. Não menos importante são os problemas sociais das cidades autocênctricas. Cidades autocêntricas não promovem a autonomia nem a socialização entre as  crianças e os jovens, condenam os portadores de deficiência, os velhos e os pobres à solidão e fechamento em suas casas. 

O projecto Évora 2.0 promovido pela GARE visa contribuir para uma mudança de paradigma na área da mobilidade urbana e da sua governança. Através das suas ações , a iniciar brevemente nas escolas da cidade, pretendemos colocar as comunidades escolares a reflectir sobre a sua mobilidade actual, a pensar e a projectar como pode ser a sua/nossa mobilidade nos próximos anos; uma mobilidade centrada nas pessoas e menos nos automóveis. E como o vamos fazer em concreto? Bom, é disso que vamos falar na próxima crónica

14/10/2019

Podemos ajudar a consertar uma cidade?

Em  dois dias o Projecto Évora 2.0 recebe nas escolas por onde passa  uma turma durante cerca de 50 minutos. Ao longo destes dois dias recebemos cerca de 150 crianças entre os 10 e os 16 anos. 

A grande maioria destes estudantes usa o carro no seu percurso casa-escola. São muito poucos aqueles que vão a pé ou  de bicicleta. Ainda menos aqueles que usam o autocarro. Aliás, a utilização do autocarro no percurso casa-escola é, estranhamente, residual.

Nestes dois dias que estivemos na Escola André de Resende perguntámos qual era o grande desejo de mudança em termos de mobilidade para estas crianças. A resposta foi quase unânime: a bicicleta.  

Na semana seguinte voltámos a esta escola para fazer um plenário entre a maioria das crianças com quem estivemos antes. Cerca de 80 crianças juntas numa sala grande. Em vez de um PowerPoint, levámos uma bicicleta. A bicicleta que levámos estava avariada. Como a cidade está para quem anda a pé ou de bicicleta. Mesmo assim, arriscámos umas voltinhas na sala. Descobrimos que a bicicleta também serve para dar palestras e cativam mais do que o PowerPoint. Sobretudo se estiver em movimento como fizemos.

É muito arriscado usarmos uma bicicleta sem travões como é ainda  arriscado andarmos na nossa cidade de bicicleta. Então o que fazer perante uma bicicleta avariada? Esperar que se arranje sozinha ou meter mãos à obra e consertá-la? E a cidade que julgamos avariada também podemos ajudar a consertá-la? Num diálogo animado foi essa a reflexão que fizemos. Foram várias as propostas: organizar manifestações, reivindicar mais ciclovias e menos carros nas estradas ou, simplesmente, andar mais de bicicleta na cidade. Por cada bicicleta a circular é menos um carro na cidade.

Fernando Moital, 4/11/2019

A bicicleta em Évora é só para miúdos?

Crédito fotográfico: © Can Stock Photo / bernardojbp

Até ao momento já passaram pelas actividades do Projecto cerca de 600 crianças das escolas de Évora. Crianças e Jovens dos 10 aos 16 anos.  Estivemos nas semanas anteriores na Escola André de Resende e Gabriel Pereira. Esta semana estaremos por 3 dias na Escola Manuel Ferreira Patrício.

Temos sido maravilhosamente bem recebidos pela Comunidade Educativa: professores, funcionários, alunos e as famílias que, pacientemente, e complacentemente, riem com o nosso Fixemóbil. Aquele carrito que anda pé, criado pela equipa fantástica do PIM Teatro, que ridiculariza o trânsito infernal e diário, ou melhor bi-diário, à porta das escolas durante a entrega e recolha dos alunos. 

Depois desta experiência, algumas conclusões rápidas: 

  1. quase todos os alunos são transportados de carro para a escola. A excepção são alguns que moram a menos de 1000 m da escola que andam a pé; 
  2. É residual o número de alunos que usa o autocarro nas Escolas André de Resende e Gabriel Pereira. Cerca de 1 aluno por turma;
  3. É residual aqueles que usam a bicicleta nas suas deslocações diárias escola-casa;
  4. E agora a ilação que mais nos surpreendeu: é entre  os jovens entre os 10 e 14 anos que são transportados de carro diariamente que existe o maior desejo de mudarem a sua forma de mobilidade para a bicicleta. Em contraponto, muitos dos jovens entre 14 e 16 anos já querem ter …uma moto. 

Será já tarde fazer campanhas junto dos jovens desta idades? Será a bicicleta um modo de mobilidade apenas ligado à infância? Uma coisa é certa, apesar do aumento de bicicletas nas ruas de Évora, ainda estamos longe da moda da bicicleta na nossa cidade. Mas lá chegaremos. E o projecto Evora 2.0 está nas escolas e na cidade para dar o seu contributo pela mobilidade activa e pelo transporte público.

Fernando Moital, 5/11/2019

O que é que a mobilidade tem a ver com a indisciplina na Escola?

Esta semana estivemos com cerca de 200 estudantes da Escola André de Resende, Évora.

Já sabíamos das múltiplas vantagens que decorrem quando as crianças se deslocam a pé ou de bicicleta para a escola:  Promovem a autonomia, o melhor conhecimento do território e da saúde através do esforço físico. Mas aprendemos algo com a turma mais desconcentrada que passou por nós. É sabido, pelos pais e, sobretudo  pelos professores, da fraca capacidade de concentração dos alunos, de alguns problemas de indisciplina. As razões são múltiplas e não cabem no âmbito desta crónica explica-las. 

Mas ….E se uma das razões para isto fosse também consequência do estilo de vida que decorre também do tipo de mobilidade , centrado nos carros e promotores de grande dependência dos adultos, que a grande maioria dos nossos jovens vivencia?  Expliquemos um pouco. A convivência entre os jovens é fundamental para o seu bem-estar emocional É fundamental o convívio entre pares. Que oportunidades têm estes jovens de conviverem entre si, de forma livre e independente? Quase nunca. Comparemos com as gerações anteriores. O convívio entre pares fez parte das nossas melhores recordações de jovens. Em contraste com a atual geração, havia espaço, tempo e autonomia para isso. Tínhamos a rua e autonomia para isso. 

Promover uma cidade mais segura  para devolver a cidade às crianças e jovens a sua autonomia seria um contributo importante para o equilíbrio emocional dos nossos jovens e , porventura, para uma escola com alunos mais concentrados e atentos.

Fernando Moital, 24/10/2019


O FixeMóbil

Esta segunda e terça feira estivemos na escola André de Resende com as actividades do nosso projecto: o fixemóbil, um “carro” que parodiava uma entrega extravagante de uma criança na escola com direito a uma grua e tudo, instalámos um sensor de qualidade do ar (mede partículas 20 vezes inferiores ao diâmetro de um cabelo), a mesa da mobilidade que permite perceber como as crianças se deslocam diariamente para a escola e como o gostariam de fazer e , por último, com a exposição do Projecto. A exposição pretende mostrar as vantagens de uma cidade centrada na mobilidade das pessoas face à mobilidade das cidades centradas nos carros.

Nestes dois dias passaram pelas nossas actividades 8 turmas, cerca de 200 crianças.  Cerca de ? dos alunos da Escola André de Resende. 

À escola, aos professores, aos pais pacientes e que se riram com o fixemóbil e aos outros que não se riram, obrigado  também, e, sobretudo, aos alunos entusiasmados, questionadores e muito interventivos, o nosso muitíssimo obrigado. 

Na próxima semana regressaremos à Escola André de Resende. Desta vez em plenário, para três turmas ao mesmo tempo, cerca de 75 alunos de vários anos de escolaridade, para apresentar aquilo que aprendemos durantes este dois dias. E continuaremos a aprender na discussão que teremos ao longo dos 50 minutos que durará a sessão.

No terceiro momento, na sequência da nossa dupla passagem pela Escola André de Resende, entregaremos um pequeno relatório, reflexo de todas as nossas aprendizagens.

Para a semana, 2ª e terça feira , estaremos na Escola Gabriel Pereira. E na 4ª feira num seminário ao final da tarde na DGESTE, aberto a toda a comunidade. Se se interessa por estas questões da mobilidade, apareça! Consulte o nosso site: fixecity.net.

Fernando Moita, 23/10/2019

A Exposição Itinerante Évora 2.0

Hoje damo-vos conta da Exposição Itinerante do nosso Projeto Évora 2.0. Esta exposição procura contrastar o paradigma das cidades autocênctricas, cidades pensadas em função dos carros, com as cidades pensadas para as pessoas e nas formas de mobilidade suaves: andar a pé e de bicicleta.

Num dos painéis da exposição damos a oportunidade às crianças e jovens de investirem 100.000 € na sua cidade em projectos de mobilidade. 

Nesse painel podem fazer 4 opções, cada uma tem um custo de 25.000€ . Cada uma das opções promove um tipo específico de mobilidade (andar a pé, de bicicleta , de transporte público ou de carro próprio). As crianças e jovens vão poder optar:  entre criar mais estacionamentos para automóveis à volta da escola ou construir mais passadeiras; ou entre requalificar um troço de estrada ou fazer um troço de ecopista num dos acessos à escola. 

Com este exercício pretendemos mostrar duas coisas importantes quando se gere a cidade: que os recursos são escassos e que quando se privilegia uma forma de mobilidade fazemo-lo em prejuízo de outra. De que recursos falamos? Dinheiro e espaço. A escassez do dinheiro é óbvia. Em relação à escassez do espaço público já nem sempre nos damos conta de que, por exemplo,  quando alargamos uma via isto se faz, muitas vezes, à conta do espaço que é conquistado às pessoas que andam a pé ou de bicicleta.

O Projecto Évora 2.0.  Vai continuar a realizar actividades nas escolas de Évora. Para nos seguir pode fazê-lo através do nosso site fixecity.net ou GARE.pT

Fernando Moital, 21/10/2019

Receber por andar a pé ou de bicicleta?

Esta segunda-feira e amanhã estaremos na escola André de Resende com os materiais e desafios  do nosso Projeto. Ao longo destes dois dias procuraremos dar a conhecer os nossos espetaculares “dispositivos”: o fixemóbil, a mesa da mobilidade, a exposição e os nossos sensores de qualidade do ar. Entre outras  finalidades, o Projeto pretende produzir um Plano de Mobilidade participado por cada escola por onde passar. 

Hoje damos a conhecer a Mesa da Mobilidade. Trata-se de um mesa grande que serve de suporte a uma fotografia aérea da cidade de Évora. À volta da mesa tentaremos perceber como os alunos se deslocam para a escola, a que distância moram da escola. Tentaremos ainda perceber se têm o desejo de mudar de tipo de mobilidade e o que os impede de mudar. Se razões do contexto familiar, se razões relacionadas com a cidade.

Ainda à volta da super-mesa, mediremos  os tempos, as distâncias e os custos envolvidos nas deslocações casa-escola em função do tipo de transporte que usam. Custos das deslocações para quem se desloca, ou pretende deslocar, a pé e de bicicleta? Não. Nestes casos falaremos da remuneração que devem receber caso optem por andar a pé ou de bicicleta. Remuneração, sim, não nos enganámos e o caro ouvinte percebeu bem. Do argumentário que sustenta esta mudança de paradigma falaremos numa próxima crónica.

Fernando Moital, 18/10/2019

Monitorizamos a Qualidade do Ar

A degradação da qualidade do ar é umas  das consequências mais nefastas da mobilidade 1.0 (a mobilidade centrada no automóvel)  que se faz através de emissão de gases e partículas. As partículas decorrem da combustão dos motores e do desgaste dos travões e pneus. 

A poluição atmosférica é responsável,segundo a Agência Europeia do Meio Ambiente, por mais de 400.000 mortes prematuras na Europa. As partículas finas, com dimensões 20 vezes inferiores à espessura de um cabelo, são fácilmente inaláveis e os seus efeitos são especialmente perniciosos entre crianças e idosos. 

Terena, no concelho do Alandroal, e Sines são as duas estações da CCDRA (Comissão de Coordenação da Região Alentejo)mais parte de Évora  e fazem parte de uma rede certificada de estações europeias que monitorizam a qualidade do ar na Europa. 

Em Évora, monitorizou-se a qualidade do ar , tanto quanto sabemos, pela última vez , em 2013.

E a partir da semana que vem, com sensores não calibrados é certo, o projecto Évora 2.0 vai começar a medir também um dos parâmetros mais sensíveis que afectam a qualidade do ar. Precisamente as partículas finas, aquelas que têm dimensões inferiores 20 vezes a espessura do cabelo. E onde vão ser feitas essas medições? Para já num dos locais mais importantes da nossa cidade: em frente às escolas. 

Dar-vos-emos  conta aqui das primeiras medições assim que tivermos os primeiros dados. 

Fernando Moital, 17/10/2019

A Mesa da Mobilidade

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Ainda? ?temos? ?datas? ?disponíveis? ?para? ?nos? ?deslocarmos? ?às? ?escolas? ?de? ?Évora.? ?Se.? ?porventura,? ?estiver? ?interessado? ?em? ?saber? ?mais,? ?contacte? ?a? ?GARE? ?em? ??www.gare.pt?.?

Fernando Moital, 15/10/2019